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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Dos Jardins do Éden ao Inferno - Parte 2

Levaram-me, encapuzado, a um lugar que desconhecia a existência, mas fedia esgoto e mirava cortiços.Carros e motos velhas, muito mato e terra no chão. Que nojo!

Via o preto que me rendera acariciar uma mulher. Me enojara aquelas peles marrons trocando carícias, mas me surtiu uma ponta de inveja. Há anos não trocava carícias tão sinceras quanto aquelas que via. Percebi que ninguém me amava, apesar de eu ter dinheiro.

Veio também uma criança, o preto a abraçou, beijou. Percebi que não era cativeiro profissional (se é que isso existe), mas uma residencia, possivelmente deles. Uma casa suja. A mulher implorou para que deixasse aquilo e me libertasse. Surpreso, pensei: "Ela, tendo misericórdia de mim?" Minha ponta de inveja passou, nunca deixaria alguém do baixo limbo sentir pena de mim. Solto mataria os três, Victoria e o outro comparsa que não mais vi. Canalhas!

Eram meus minutos finais, pressentia. Um cano de grosso calibre e cheirando pólvora pairava perto de minha boca pedindo grana. Me lembrava da infância e juventude, onde canos de calibres semelhantes jorravam em mim com cheiro de meus segredos de prazer. Ahh Armandinho...lembrei de tuas carícia, onde andas? Lembrei das caricias do preto na mulher e na criança. Lembrei da orgia que imaginei quando eles abriram a porta do flat...

Olhei para o lado, vi uma moto com baú. Maldito motoboy! Me arrependo da capacidade de pensar.

Ele me pressionou em vão. Chamei aquele preto de preto, de favelado. Disse que não tinha grana, que estava falido. Era minha última verdade. Verdade rara. Ele apertou o gatilho três vezes com brados: "Playboy filho da puta, te soltaria por uma nota de cinco, mas não perdoo injuria!". Vejo meu corpo estirado no chão, sangue jorra. A mulher chorando com a criança, desespero. O homem fugindo, sofrimento e dor. Eu apenas rio, que se fodam!

Nasci nos Jardins, cresci no Éden. Comi do maná da sabedoria e tive de escolher entre bem e mal. Optei pelo conveniente. Agora, uma capa vermelha, chifres. O grande arquiteto a me conduzir para a fogueira. Será que reencontrarei amigos? Ao menos isso, amém.

por Coronel Malaquias

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