Sexta-feira 13 de Carnaval. Josmedir abusava da bebida.
Cachaça, caipirinha, cerveja, rabo de galo, maria-mole. Roubaram o coração da minha sogra, botaram coração de jacarééééé...,
animado pelas marchinhas, abraçava o mulherio e alguns marmanjos. Josmedir
adorava a folia.
Lá pelas tantas, trombou uma moça loura, novinha. Um tesão. O
papo colou. Josmedir bebeu mais um pouco. A coisa esquentou. Aqui não, tem muita gente, protestou a
menina. Pegou-o pela mão e o levou para longe dali. Passaram o asfalto,
entraram na mata e Josmedir viu um cemitério. Um cemitério que nunca pensou ter
existido por ali. Vem, convidou a
mocinha, deitada numa lápide, oferecendo-se toda. Tem que ser aqui, explicou.
Colocar-se em pé diante de tamanha intoxicação etílica foi
difícil, mas perfeitamente possível diante de algumas tentativas e o auxílio
prestimoso da lourinha. Saíram dali tão logo acabaram. Voltaram à festa e se
perderam entre os foliões. Josmedir acordou no dia seguinte, em sua cama, com
vagas lembranças do ocorrido.
Procurou-a por toda parte. No sábado, vislumbrou a cabeleira
loura entre um bloco de homens-cone. Correu para lá, mas não a alcançou. No
domingo, teve a certeza de que a ouvira chamar por ele. Passou a noite sóbrio,
olhando para os lados feito tonto. No corpo, jurava carregar o cheiro da
menina. Cheiro de flor, de vela derretida. Cheiro de cachoeira e de bicho que
vive no mato. De madrugada, sonhava. Via-a em todo lugar e, ao mesmo tempo, em
lugar nenhum.
Na última noite, sentiu uma mão em seus ombros. Atirou-se sobre
ela feito condenado. Beijava-a com sofreguidão, indagava sobre seu paradeiro. Estive por aí, simplificou. Voltaram ao cemitério, à mesma lápide,
onde Josmedir novamente a possuiu. Amaram-se e ele se deixou levar por uma onda
repentina. Como se acalentado em berço, dormiu.
Acordou na porrada, já com o dia claro e um cheiro
nauseabundo tomando conta. Estava deitado no chão, nu, sob botinadas dos
polícias. Foi levantado pelos cabelos e, entre gritos e sopapos, viu alguém
recolher um corpo acinzentado, sem cor de gente. A lápide estava violada. Em
sua cabeceira, uma foto da lourinha, seguida pela data de falecimento ainda
recente. Questão de semanas. Na delegacia, não conseguiu explicar algo que ele
mesmo jamais entenderia. No dia seguinte, os jornais noticiaram a prisão do ‘Necrófilo
do Embu’.
Por Guinea Pig
Tenho dó da alma dos aloprados que escrevem essas coisas.
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