Papa no Brasil. Emoção e protestos nas ruas do
Rio de Janeiro. Sandrinha sonhava
conhecer o Pontífice. Saiu de casa ainda de madrugada. No centro da cidade,
o clima estava quente. Gás lacrimogêneo e balas de
borracha. Sandrinha ficou tonta. Sandrinha passou mal. Um PM borrifou gás de
pimenta em seu rosto. O mundo queimou. Uma mão a agarrou e a tirou dali. Diante
dela, entre borrões vermelhos, um rapaz de barba e cabelos rebeldes. Deixou-se
levar até um terreno baldio. Preparou-se para agradecer e foi agarrada. Tentou
resistir. Ele era mais forte. Colocou a mão entre suas pernas. Insinuou-se por
baixo do vestido. Acariciou-a. Fez mal a ela ali mesmo. A trilha sonora: aplausos
e vivas ao Papa, disparos das forças de segurança, bombas, gritaria, risos. O
rapazola acabou o serviço e correu para algum lugar.
Sandrinha vagou pela cidade. Os olhos ardiam, as vergonhas
queimavam. Na garganta, um nó. Alguém disse que o carro do Papa ficou preso na Presidente
Vargas. Alguém disse que outro grupo de protestantes estava a caminho. O choque vem aí! Ela teve a ideia de se
lançar ao mar.
Na praia, encontrou jovens missionários. Aproximou-se de um grupo de seis. Contou a eles seu desgosto. Ouviu palavras de conforto, falaram de Jesus, de Deus, do Papa, do universo. Ofereceram algo para comer e beber. Sandrinha estava feliz de novo. Queria dançar. A praia pareceu vermelha, depois azul, verde e de todas as cores. Pensou ter visto o Pontífice em meio às ondas. Ele andava sobre as águas e a chamava pelo nome. Acordou, não se sabe quando, sem roupas, sem pertences, sem nada senão fluídos pecaminosos ressecados em seu corpo. A cabeça pesava uma tonelada.
Juntou os trapos de dignidade e foi embora. Não se sabe como chegou em casa. Um mês depois, um teste de farmácia acusou: positivo. Vai se chamar Francisco, decidiu.
Por: Guinea Pig.
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