Início de ano. Eduarda entregava-se às loucuras de verão. A
estação mexia com seus hormônios e umedecia-a não apenas de suor. O jogo preferido era seduzir, acelerar a rapaziada - como diz o populacho.
Resolveu brincar com o Souza, sujeito de modos polidos e
bons dentes. Enviava mensagens sacanas, telefonava para tirar a paz. O rapaz foi para cima, porém, a
diaba era ardilosa. Desviava das investidas e, quando a coisa
esfriava, tornava a instigá-lo. A maldade praticada provocava gozos fantásticos e horas de prazer solitário. Pode haver tesão maior que esse?, pensava, a lamber os dedos.
Acontece que Eduarda também estava com andança de rato para os lados de
Alencar, o encarregado boa praça. Ele não deu margem a papo
furado e foi logo pros finalmentes. Na cama com Alencar, ela evocava a situação a que submetia o Souza e atingia orgasmos
épicos. Eduarda virou a cabeça.
Infelizmente, o vento nunca sopra em uma única direção e não
tardou muito para ela ser dispensada pelo amante. A vida tem dessas coisas.
Amargou exatos dois dias de chateação e voltou a se dedicar ao passatempo mórbido. Mas, àquela altura, Souza já estava
ciente de toda a patifaria. Revoltado, usou o que restara
do 13º para encomendar vingança. Emboscada por seis capangas vindos do Jardim Japão, Eduarda levou uma surra de malandro. Escapou por pouco, mas com
lesões irreversíveis. Tetraplégica e sozinha, foi largada em uma clínica. A lingerie sensual deu lugar às fraldas geriátricas, a pele outrora sedosa foi tomada por escaras.
Em um dia de janeiro, deixaram-na visitar a sala de
informática. Não deu outra: com o canudo à boca que
viabilizava seus parcos movimentos, acessou a antiga conta do MSN. Analisou os
contatos, selecionou um nome e mandou: Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
O urso perde o pelo, mas não perde o vício.
Por: Guinea Pig
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