A vida não era fácil no escritório em Guarulhos. Basílio
fazia das tripas o coração, mas promoções e aumento de salário eram como cabeça
de bacalhau. Distraía-se entre riscos e rabiscos que chamava
de contos. Montou um blog onde, anônimo, relatava as agruras da vida.
Um dia, na Internet, viu seu texto reproduzido na íntegra, porém, com crédito a um escritor famoso e já falecido. Achou graça e refletiu: talvez houvesse futuro na literatura. Passou a escrever com seu nome e a cabeça repleta de sonhos.
Dali uma semana foi
procurado pelos representantes do falecido autor. A proposta: escrever quatro livros, sob contrato sigiloso, para que fossem lançados como obras
póstumas. A grana era alta, mas o orgulho falou mais alto. Recusou.
No outro dia, o dono da empresa o chamou para
um particular. Doutor Mário Bastos pediu que reconsiderasse. Os herdeiros do
autor eram amigos próximos, gente de bem etc. A resposta, mais uma vez, foi “não”.
A ousadia custou-lhe o emprego, sem direito a receber um único tostão.
Com a bile transbordante, trancou-se por dois meses. Saiu de casa com três livros prontos, verdadeiras obras de arte dignas de um Nobel. Bateu à porta das editoras e ouviu ofertas enviesadas. Não tinham interesse, porém, conheciam pessoas que adorariam “comprar” a autoria dos livros. Amargurado, decidiu que se tratava de questão de honra. Juntou as últimas economias, pediu uma gaita para o cunhado e bancou a xérox e encadernação.
No boca-a-boca, as histórias caíram no gosto do populacho. O dinheiro que entrava era investido na produção de novos exemplares que se esgotavam rapidamente. Havia vendido mais de 50 mil cópias quando chegou a intimação. Basílio era acusado de plágio. Os herdeiros alegavam que o avô, antes de morrer, havia ditado aquelas histórias inéditas. A Justiça foi célere em condenar Basílio, que perdeu, até mesmo, o teto sob o qual vivia.
Com a bile transbordante, trancou-se por dois meses. Saiu de casa com três livros prontos, verdadeiras obras de arte dignas de um Nobel. Bateu à porta das editoras e ouviu ofertas enviesadas. Não tinham interesse, porém, conheciam pessoas que adorariam “comprar” a autoria dos livros. Amargurado, decidiu que se tratava de questão de honra. Juntou as últimas economias, pediu uma gaita para o cunhado e bancou a xérox e encadernação.
No boca-a-boca, as histórias caíram no gosto do populacho. O dinheiro que entrava era investido na produção de novos exemplares que se esgotavam rapidamente. Havia vendido mais de 50 mil cópias quando chegou a intimação. Basílio era acusado de plágio. Os herdeiros alegavam que o avô, antes de morrer, havia ditado aquelas histórias inéditas. A Justiça foi célere em condenar Basílio, que perdeu, até mesmo, o teto sob o qual vivia.
Nas ruas, descobriu que a pedra mascarava a fome e dava
alívio rápido. Mas, ali, no centrão, os agentes da Lei botavam
para quebrar. O comércio local patrocinava a operação limpeza. Sangue frio,
capuzes e armas de numeração raspada. Numa quinta-feira, contabilizaram treze mortos. Entre
eles, Basílio.
Ninguém reparou, mas o jornal que cobria o cadáver trazia a
manchete “Obra póstuma é vencedora do Prêmio Jabuti”.
Na foto, um velho conhecido sorria.
Por: Voltaire de Abreu
Por: Voltaire de Abreu
Mundo editorial do cão. Quantos talentos são tolhidos nessa idade média midiática que vivemos... Mundo de CASTAS, com nobres de MERDA!
ResponderExcluirTrágico
ResponderExcluirAgora chega!!! Che-ga!!!Entenderam??Saibam que sou mecenas da literatura e financio muitas obras de autores consagrados.Muito me admira agora, a essa altura do campeonato,ver meu nome envolvido em histórias sórdidas desse blogue de patifes!
ResponderExcluirMe aguardem!!!Ah, me aguardem garotos!!!!!!!