Para qualquer um pode parecer estranho, mas uma churrascaria
tem a mesma dinâmica que uma empresa. Os garçons fazem parte de uma estrutura
hierárquica, quem serve a linguiça, por exemplo, tem o mesmo valor de um
estagiário, depois disso, o garçom evolui para “analista”, servindo peito de
frango e coração. O último estágio, onde o garçom recebe o melhor ordenado, é o
mais almejado de todos, e é o espeto de picanha.
É nesta realidade em que estava inserido Maicosuel
Aparecido, nascido e criado no interior da Paraíba e que veio para a terra da
garoa tentar a sorte grande. De pequeno trabalhou como engraxate, padeiro,
confeiteiro, vendedor de sapatos e enchedor de chouriço, mas nada disso
garantiu um bom tutu no bolso.
Benê era dono da churrascaria Beneditu´s Grill, localizada
em São Paulo, mais precisamente na Lapa de Baixo. Com preço convidativo de R$
14,90, o restaurante era recheado pelo povão que adora mastigar qualquer coisa
barata e salgada. Benê tinha bom coração, e ofereceu um serviço para Maicosuel,
recém-chegado da terrinha e desempregado há tempos.
Maicosuel começou de baixo, ficou quatro meses servindo
linguiça. Aprendeu a cortar aperitivo, tirar a linguiça em pares do espeto e
distinguir a picante da tradicional só de olhar.
Mas o que deixava nosso herói paraibano arretado era o
Miguel dos Pampas. Gaúcho até na opção sexual, Miguel era um sujeito fino, de
bons modos e boas vestes. Loiro, alto e com as mãos finas, Miguel estava no
cargo de servedor de picanha há anos.
O galego fazia questão de mostrar os brancos dentes aos
clientes e cortava a picanha bem fininho, do jeito que o brasileiro gosta. É
claro que isso rendia bons trocados e um ordenado gordo no fim do mês.
Um dia serei o garçom da picanha. Servirei picanha ao alho,
picanha suína e até picanha maturada, sonhava longe, Maicosuel.
Numa manhã, na cozinha, as mãos do destino prepararam um
encontro especial. Faltava pouco para o restaurante abrir para os fregueses, e
Maicosuel e Miguel dos Pampas foram os primeiros a chegar. Os primeiros e
únicos funcionários.
- Bá, chegou cedo pra servir lingüiça, hein Maicosuel! –
Gozava o exímio cortador de picanha.
- Não me irrita não, galego bicha. – Retrucava o valente
paraibano.
- Bá, tu serve teu coração e tua linguiça e fica quieto viu,
é só o que tu sabe fazer. Um dia será como eu, mas vai demorar a valer. –
Reafirmava a gozação o rapaz dos Pampas.
E o que era um simples bate-boca virou, num instante, uma
cena de filme de terror. Facas, machadinhas e martelos de carne para todos os
lados. Sangue no teto, nas paredes, no chão e até no relógio de ponto, preso na
parede do fundo da cozinha.
Maicosuel abriu Miguel dos Pampas como se cortasse um boi.
Alcançou o espeto de churrasco, furou o coração, ainda pulsante e, puxando com
força, arrancou todas as tripas do gaúcho (acredita-se que um ser humano adulto
tem aproximadamente 1,5 metros de tripa).
Limpou um pouco do sangue da roupa, lavou o rosto e andou
triunfante em direção ao salão do restaurante.
Pela primeira vez sentia um prazer inigualável em servir
coração e linguiça.
Por: Bispo F.
Dou um trampo de garsom e é assim mesmo. Parabens.
ResponderExcluirSou empresário do ramo das churrascarias e nunca fui tão ultrajado como nesse texto.Me aguardem!!!!
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