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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Mulher de Boate

Toda noite era a mesma coisa. Escolhia-a, não sem calculada demora. No balcão, uma cerveja. Depois, fazia sinal para que se aproximasse e pagava a dose. Terminavam num quarto triste, de paredes beges e lençóis curtidos. Tomava-a pela frente, por trás, lambuzava-a a boca. Perdiam-se por infinitos caminhos até a batida na porta. De volta ao salão tomava a segunda cerveja, pagava outra dose a preço inflacionado. Ia embora cedo, com a certeza de que voltaria na noite seguinte.

Carinhoso, vez ou outra entregava presentes. Perfumes, chocolates, pelúcias. Coisas de puta. De certa feita bebeu demais e propôs: “Pega tuas coisas, vem viver comigo”. Ela calou, depois sorriu e o engoliu por inteiro. Deixou que terminasse dentro dela.

Na noite seguinte não a encontrou na boate. No terceiro dia de sumiço, continuou a fazer perguntas. As respostas limitavam-se ao silêncio e expressões de pesar. Domingo à tarde foi abordado por dois sujeitos num Santana preto. Levaram-no para lugar incerto, onde foi surrado e currado. A menina era gaveta de um Papa Charlie da 17ª. Se quisesse ficar com a putinha, avisaram, teria de pagar. Deram o preço enquanto mijavam em cima dele. Acordou em casa, costurado, enfaixado, queimando em febre. Ela estava lá, de mala e cuia.  

Sedado e imobilizado, jamais percebeu o movimento de homens que eram atendidos no quarto ao lado. Quando finalmente se recuperou, a dívida com o Charlie estava quitada.

Por: Voltaire de Abreu



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