A vida não foi boa com Jovanilda. Da infância pobre no Acre à brutalidade da periferia de São Paulo, a mulher carregava cicatrizes
na pele e na alma. Já na metade dos 50, o marido a colocou para correr do
barraco. Sem eira nem beira, sem parentes a quem recorrer, bateu na porta de uma
casa de mulheres de aluguel. Teve
humildade para especificar o que oferecia. Trabalho de lavar copos.
Em meio às beldades, foi aquela senhora simples que chamou a atenção do Português: patrão do tráfico, fechado com o 15, homem de modos violentos e fetiches sádicos.
Todos os dias, esquecia a chimbada e dedicava-se a escutar as histórias, entre um enxágue e outro. Com a espuma dos copos, Jovanilda esvaziava o coração: abusos, abortos, amores. O Português gamou. Àquela mulher fazia propostas irrecusáveis: dinheiro, jóias, o mundo. Jovanilda era irredutível.Não faço programa, só trabalho de lavar copos.
Em meio às beldades, foi aquela senhora simples que chamou a atenção do Português: patrão do tráfico, fechado com o 15, homem de modos violentos e fetiches sádicos.
Todos os dias, esquecia a chimbada e dedicava-se a escutar as histórias, entre um enxágue e outro. Com a espuma dos copos, Jovanilda esvaziava o coração: abusos, abortos, amores. O Português gamou. Àquela mulher fazia propostas irrecusáveis: dinheiro, jóias, o mundo. Jovanilda era irredutível.Não faço programa, só trabalho de lavar copos.
Tamanha atenção despertou ciúmes nas meninas da casa. O que ele vê naquela velha podre? Algumas
questionavam as razões da recusa, já que o dinheiro não era de se desprezar. Vai lá, boba,
uma vez só. Jô refutava. Repetia que sua função era lavar copos e nada
mais.
Um dia, caiu numa peça cruel. Atraída a um dos quartos, foi
imobilizada e amarrada pelas meninas. Deixaram-na nua, expondo totalmente
aquela pele com cor e textura de casca de árvore. Chamaram o Português que, sem
titubear, realizou sua fantasia. No fim, deixou dinheiro para Jovanilda e uma “caixinha”
para as cúmplices. Para de chorar, tonta,
olha quanto dinheiro ele te deu...
A velha não disse palavra. Ainda nua, foi até o balcão onde
apanhou um copo longo e elegante. Quebrou-o em um golpe e, com o caco, fez um
corte na própria jugular. O sangue lavou a honra de Jovanilda.
Por: Voltaire de Abreu
Por: Voltaire de Abreu
Amor pela profissãoo
ResponderExcluirPuro amor, Barbo...
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