Ainda descabelado, saiu às pressas da cama enquanto a
pequena dormia a sono solto. Para Marcelina, havia se identificado como Vasconcelos,
advogado, 34 anos, bem sucedido. Se trocou rápido, colocou a gravata e o
abrigo, tinha que trabalhar.
Na verdade, era consultor PJ de uma pequena empresa de
internet no centro de São Paulo. Lá, tinha um outro lanche fixo chamada
Catarina. Ali, se chamava Boaventura, formado em Ciências da Computação, e com
vivências no exterior. Para a charmosa Catarina, era "Deus no céu e Boaventura
na terra". Via de regra, transavam na escada e se aventuravam no cantinho da
máquina de Xerox.
À noite, ia pra casa, assumia o ar de bom rapaz. Quem o
esperava era Katiúscia, morena bonita de cadeiras largas. No doce lar, adotava
o nome de Pascoal. Jovem administrador de empresas, rico, e com uma gorda
herança familiar.
Numa quarta chuvosa qualquer, foi à via sacra novamente.
Sempre portava consigo os diversos RGs de suas diversas identidades, mas
naquele dia havia esquecido sua papelada em casa. Atravessou a rua. Nem deu
tempo de pensar, foi pego por um ônibus em alta velocidade. Do lado dele, o celular cabrito caído, cheio de contatos.
Os telefones de Marcelina, Catarina e Katiúscia tocaram.
Foram correndo identificar o corpo.
Num misto de choro, surpresa e muita raiva, falaram em
uníssono: “Não reconhecemos o morto”.
Fora enterrado como indigente, sem lenço e sem documento.
Fora enterrado como indigente, sem lenço e sem documento.
Por: Reverendo Lezzagon
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