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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Os cotovelos da vida


Sou casado com uma mulher diferente, linda, mas que não tem as pernas e os braços. Tudo bem, tem coisas na vida que a gente tira de letra.

Sempre fui de família humilde, vinda do Paraná, o único que “se fez na vida” fui eu, e até certo ponto. Ganhava, com meu gotejante suor, as migalhas em forma de dinheiro que usava para sustentar Ivone e meus quatro filhos.

Digo que me fiz até certo ponto, porque hoje sou garçom de churrascaria. Não ligo muito pro cargo, uns servem coração, outros picanha. O que importa é pingar meu vale no dia 15 e meu salário no dia 30.

Confesso que a profissão de garçom veio a calhar já que tenho uma tara, desde criança, que ninguém nunca entendeu. Não gosto de contar isso pra ninguém, mas sou vidrado por cotovelos. Já vi cotovelos esbranquiçados, lisinhos, cheios de bereba, com pelos, com esparadrapos, com cortes, grandes, pequenos, dos mais variados tipos.

Diz a etiqueta que nunca se deve colocar os cotovelos na mesa. Como a churrascaria tinha preços populares e era frequentada pelo povão, quase todos faziam as refeições com os cotovelos na mesa, facilitando minha apreciação. Alguns momentos, para mim, são fantásticos. Principalmente quando várias pessoas estão sentadas à mesa, e eu tenho que servir o espeto de carne entre eles. Por instantes posso roçar nos cotovelos dos dois clientes. Ah, quanto deleite!

Outro dia, saindo da churrascaria, comprei num sebo um livro sobre anatomia, que descrevia o membro brilhantemente: “o cotovelo é um elemento crítico para o funcionamento do membro superior. A extremidade superior consiste num elo entre os sistemas ombro, cotovelo, punho e mão. A primária função do cotovelo é o posicionamento da mão no espaço. Além disso, age como um fulcro para o antebraço, e permite força de preensão e os finos movimentos do punho e mão”.

Ivone, como vinha dizendo, é uma super mulher. Quando a conheci, observei e me entreguei a êxtase quando vi seus lindos e rosados cotovelos. Fiquei ainda mais maluco quando notei a grande semelhança entre os cotovelos e os joelhos, que eram fininhos, delgados. Quão apaixonante era vê-la com os cotovelos e joelhos de fora, com roupas soltinhas.

Como são lindos! Decepei todos, os quatro membros, mergulhei numa solução especial e guardei numa caixa branca que fica dentro do armário. Sei que um dia a Ivone pode partir, mas seus cotovelos e joelhos estarão sempre lá, aguardando meus olhares de admiração.


Por: Bispo F.

2 comentários:

  1. Que disparate! É uma história absurda, mas não deixa de ser a novela da vida real. Tô chocada até agora.

    Silvia.

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  2. Isso que é uma paixão sem dor de cotovelo.

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