Sou casado com uma mulher diferente, linda, mas que não tem as pernas
e os braços. Tudo bem, tem coisas na vida que a gente tira de letra.
Sempre fui de família humilde, vinda do Paraná, o único que “se fez na
vida” fui eu, e até certo ponto. Ganhava, com meu gotejante suor, as migalhas
em forma de dinheiro que usava para sustentar Ivone e meus quatro filhos.
Digo que me fiz até certo ponto, porque hoje sou garçom de
churrascaria. Não ligo muito pro cargo, uns servem coração, outros picanha. O
que importa é pingar meu vale no dia 15 e meu salário no dia 30.
Confesso que a profissão de garçom veio a calhar já que tenho uma
tara, desde criança, que ninguém nunca entendeu. Não gosto de contar isso pra
ninguém, mas sou vidrado por cotovelos. Já vi cotovelos esbranquiçados,
lisinhos, cheios de bereba, com pelos, com esparadrapos, com cortes, grandes,
pequenos, dos mais variados tipos.
Diz a etiqueta que nunca se deve colocar os cotovelos na mesa. Como a
churrascaria tinha preços populares e era frequentada pelo povão, quase todos
faziam as refeições com os cotovelos na mesa, facilitando minha apreciação.
Alguns momentos, para mim, são fantásticos. Principalmente quando várias
pessoas estão sentadas à mesa, e eu tenho que servir o espeto de carne entre
eles. Por instantes posso roçar nos cotovelos dos dois clientes. Ah, quanto
deleite!
Outro dia, saindo da churrascaria, comprei num sebo um livro sobre
anatomia, que descrevia o membro brilhantemente: “o cotovelo é um elemento
crítico para o funcionamento do membro superior. A extremidade superior
consiste num elo entre os sistemas ombro, cotovelo, punho e mão. A primária
função do cotovelo é o posicionamento da mão no espaço. Além disso, age como um
fulcro para o antebraço, e permite força de preensão e os finos movimentos do
punho e mão”.
Ivone, como vinha dizendo, é uma super mulher. Quando a conheci,
observei e me entreguei a êxtase quando vi seus lindos e rosados cotovelos.
Fiquei ainda mais maluco quando notei a grande semelhança entre os cotovelos e
os joelhos, que eram fininhos, delgados. Quão apaixonante era vê-la com os
cotovelos e joelhos de fora, com roupas soltinhas.
Como são lindos! Decepei todos, os quatro membros, mergulhei numa
solução especial e guardei numa caixa branca que fica dentro do
armário. Sei que um dia a Ivone pode partir, mas seus cotovelos e joelhos
estarão sempre lá, aguardando meus olhares de admiração.
Por: Bispo F.
Que disparate! É uma história absurda, mas não deixa de ser a novela da vida real. Tô chocada até agora.
ResponderExcluirSilvia.
Isso que é uma paixão sem dor de cotovelo.
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