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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Cabo de marfim

Parou com o cabrito no meio fio. Distância segura, faróis apagados. O tempo seco garantia boa visualização. Os malas faziam a correria sem preocupação. Tudo deles, por ali. A primeira fita foi com um casal. Entraram na casa, bateram no cara, folgaram e mamaram nos peitos da patroa. Vazaram levando dois contos. Na rua, um nóia colou. O alemãozinho saiu para buscar a parada. Do carro, acompanhou-o com os olhos até dobrar a esquina. O negrão ficou. Ele e o nóia trocaram uma ideia. O alemão voltou, entregou, pegou a grana.  Saíram dali, para dar um tempo e desbaratinar. 

O segundo BO foi com família. Enfiaram o canhão na cara do moleque, tocaram o terror no pai, estapearam a mãe. Levaram roupas e uma merreca em grana. Dois roubos de cara limpa. Um loirinho e um moreno, mais para negrão. A arma em ambas as ocorrências: um 38 com cabo de marfim.

Voltaram. Fumaram um cigarro e esperaram. Ligeiros, faziam as fitas longe dali para não irritar o patrão. Tráfico e 157. Uma vela para Deus e outra para o diabo. Uma moto colou. Dessa vez o alemão ficou e o outro saiu.

Chegar nos malas foi fácil. Charlie levanta o serviço, Mike dá o bote. Em tese. Mas ele ia reclamar? Também tinha seus negócios lá dentro. Legítima defesa, resistência à prisão. "O suspeito abriu fogo"; “As câmeras de vigilância encontravam-se desativadas”; “A testemunha não foi localizada”.

Semana anterior. Chácara de bacana. Serviço dado: quinze paus guardados no cofre. Joias, relógios, celulares, eletrônicos e o caralho a quatro. Os malas se animaram com o bar e chaparam. O alemão deu uma de Jack e comeu a dona. O negrão fez o marido ver. Na cabeça do sujeito, um 38 reluzente com o cabo em marfim. Depois enfiaram o casal no carro, levaram para uma quebrada. Com os dois amarrados, soltaram num barranco. A mulher se machucou. O cara virou um vegetal. O recado chegou até ele para que fosse tomada uma atitude. Os Charlies lavavam as mãos.

Deu a partida e saiu devagar, sem pressa. Contornou mais adiante, acessou a outra mão. Chegou perto e acelerou. Pegou os malas de surpresa. O para-choque esmigalhou ossos, rasgou fundo. Perdeu um dos faróis. Uma cabeça trincou o para-brisa. Alguma coisa rolou por cima do carro. Desceu de Glock na mão. Duas balas para cada um. Virou o corpo do alemãozinho. A arma era bonita. O acabamento em marfim, delicado. Coisa de artista. Foi embora, levando o souvenir.

Por: Guinea Pig

Um comentário:

  1. eu arrasou gostei da abordagem; Bruno Machado, brother vc em constante mutação, sendo influenciada por vários aspectos que vão desde os sócio-políticos até a modificação natural que algumas palavras sofrem por seus falantes. Vc usou estrangeirismo(Glock), neologismos e gírias. Seria esta arma um calibre 38 um fora de série envolvido numa puta contemporaneidade. "Parabébéns"!!!

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