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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Turbine sua carreira


Colégio particular, faculdade de ponta, intercâmbio, MBA. Após anos de investimentos, Simona colhia os frutos. No primeiro dia como gerente, o chefe a alertou. “Aqui nós protegemos os nossos. Você, a partir de agora, terá a missão de preservar esse legado”. Ela não entendeu, até fazer a primeira contratação. O rapaz estava providenciando a papelada quando o tal diretor jogou água. “Esse menino não serve. Não tem intercâmbio, não tem contatos, não é parente de ninguém importante e é formado em faculdade barata”. 


Criada a leite com pera, acostumada com o bom e o melhor, Simona pouco se comovia com as frustrações alheias. Em poucos meses, criou uma casca de indiferença. Até que conheceu o Madureira.

Mulato de olhos serenos, era cotista na USP. Devorador de livros, com raciocínio rápido, fluente em alemão, espanhol, inglês e mandarim, buscava uma oportunidade de crescimento profissional. Na entrevista,  caiu de amores pelo rapaz. Horas mais tarde, entregou-se a ele em um motel ali pertinho, na Marginal Pinheiros. Tomada pelo desejo, decidiu quebrar as regras. Passou por cima da direção, xavecou um RH horrorizado e contratou o rapaz. Um mês depois, estavam os dois na rua.

A vida na Cidade Ademar não era fácil. A ousadia da executiva a deixara “queimada” no mercado. A Madureira, as únicas oportunidades oferecidas eram de Analista Júnior, quando muito. Após meses de penúria, Simona conseguiu uma oportunidade. Numa quarta-feira, o novo chefe a chamou de canto. “A gente sabe da sua história, mas você terá uma nova chance no mundo corporativo. Não chegará a cargo de liderança, mas, por outro lado, terá o emprego garantido. Topa?”. Simona aceitou e, a partir daquele dia transformou-se em brinquedo de prazer nas mãos de gerentes e diretores. Orgias, dominação, fantasias inimagináveis, patologias. As taras dos empregadores não conheciam limites.

Em pouco tempo, chegaram à Cidade Ademar as notícias do que ocorria entre Simona e os bem nascidos da Luiz Carlos Berrini. O dono da quebrada chamou o Madureira e mandou, na lata: “Toma uma atitude”. À noite, ao voltar de mais um dia de batente e sevícias, a jovem encontrou um Madureira transtornado. De revólver na mão, ordenou que Simona se ajoelhasse. Em seguida chamou Pé de Pano, que trazia o ferro em brasa especialmente preparado. Marcou-a feito gado, na testa, para sempre, com as palavras: “MBA em fodelança: frente, verso, chupo e engulo”. Terminado o serviço, anunciou: “Agora você pode ir”. Simona estava arruinada, queimada no mercado e na comunidade.

A favela, assim como o mundo corporativo, possui suas próprias regras e líderes decisores.

Por: Voltaire de Abreu

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