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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Profissão: homeopata

Me formei na Paulista de Medicina em 87, foram seis anos de estudo mais o período de residência. Ao contrário de meus amigos, não quis me tornar um clínico geral qualquer. Em vez disso, me especializei num ramo ainda não completamente reconhecido pela Medicina, a Homeopatia.
Ao longo dos anos, estudei a fundo as teorias do precursor das ciências homeopáticas, Samuel Hahnemann. A teoria homeopática acredita no preceito “Similia similibus curantur”, ou seja, semelhantes são curados por semelhantes". O tipo físico, a psique, os traços comportamentais, emocionais e intelectuais do paciente são estudados; a partir daí, um elemento do reino animal, vegetal ou mineral é indicado para curar sua debilidade.
Em forma etérea ou energética, a doença é introduzida no corpo do paciente para que ele, com suas próprias forças, consiga aumentar sua força vital e combate o mal.
Claro que seria impossível colocar Mercurius Vivus num vidro, ou senão Phosphorus ou Aurum. O remédio é composto, na verdade, destas substâncias diluídas em água até serem reduzidas a uma potência da escala de milhões. Sempre preferi as escalas CH (centesimal hahnemanniana) em vez da escala decimal comum (dita escala d ou escala x).
Montei um pequeno consultório e ficava feliz em curar meus pacientes com a filosofia homeopática. Claro que isso tudo ia contra às bases estabelecidas da alopatia que seguiam a máxima “Contraria contrariis curantur”, onde contrários são curados por contrários".
Atendi os mais diversos tipos de pessoa: hipocondríacos, hipertensos, bipolares, histéricos e muitos outros, mas um dos pacientes me chamou a atenção. Vilma era uma mulher bonita, tinha as canelas finas, porém firmes, coxas bem desenhadas e o osso do púbis saltado para frente, delineando sua vagina. Seus seios pareciam com duas bexigas, grandes e, aparentemente, macios. No alto de seus 40 anos, Vilma estava bem conservada e não aparentava ter mais que 27.
Seu aspecto físico doce e sensual era contrastado pela sua personalidade amarga e rancorosa. Ela tinha raiva de tudo e de todos, maltratava todos a seu redor. Xingava porteiros, faxineiros, parentes, quem quer que estivesse à sua frente. Nosso primeiro encontro foi longo, geralmente demoro umas duas horas para realizar a anamnese do paciente.
- Sra. Vilma, consegui compreender sua personalidade e identificar o melhor composto homeopático a você.
- Ah, que bom, doutor. Vou deixar de ser nervosa, de ter dores musculares?
- Vai sim. Vou preparar e, em instantes, te entrego, pode aguardar na sala de recepção?
Preparei o remédio da Vilma que, segundo os preceitos homeopáticos, reflete sua personalidade e caracteriologia. Claro, eu seguia a linha unicista, que pregava a cura de diversos males com um só remédio.
- Está aqui, Vilma. Comece tomando hoje, cinco gotas pela manhã e cinco pela tarde. Ah, não guarde o medicamento perto de equipamentos celulares, nem deixe ele exposto ao sol. Volte aqui em um mês, ok?
No dia seguinte, folheei as páginas do jornal e vi a tão esperada notícia: “Morre importante socialite de São Paulo. Vilma Barreto deixará saudades”.
Para uma cobra como essa, encontrei o veneno certo a dedo: cianureto. Mesmo em baixas doses, é um dos mais mortais conhecidos hoje.
“Similia similibus curantur”, mais uma vez a homeopatia se mostrou completamente eficaz.

Por: Reverendo Lezzagon

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